terça-feira, 9 de setembro de 2008

Análise da Campanha da Unicef - Publicada na Revista Caros Amigos


A Semiótica é a ciência dos signos que tem como objeto de estudo todas as linguagens possíveis. De acordo com Santaella (2000), é necessário ler os signos com a mesma naturalidade com que respiramos. O que torna essa ciência indispensável em nossa vida. Partindo deste princípio, será analisneste texto o anúncio da UNICEF publicado na revista Caros Amigos, ano X nº. 116, Novembro/2006. No anúncio, temos a presença de signos lingüísticos e signos visuais.
Analisando os signos visuais, temos um menino triste, olhos fechados que nos remete a alguém que já não possui esperança de dias melhores. Nota-se também uma situação de conformismo e, ao mesmo tempo, de tristeza. Está presente na imagem uma luz fosca, refletida em apenas parte do seu rosto. Esse menino, que aparenta ter mais ou menos 10 anos, está sentado e apóia seu cotovelo sob a mesa que esta vazia. O anúncio também é constituído por um cenário vazio de cor verde, desbotada e um tom amarelado, a textura da parede também é áspera, valorizando a imagem, dando-lhe um aspecto envelhecido, utilizando destes mecanismos o anunciante vai mexendo com o emocional do interprete.
É possível notar que, a única coisa que está presente na parede é uma janela, que ganha lugar de destaque no anúncio, e 90% da luz utilizada é emergida por ela, que escurece cada vez mais o Beto, remetendo o interprete ao signo de exclusão em que o Beto esta submetido. O fato da janela também se encontrar fechada e a mesa vazia, confirmam para o interpretante através de inferências e dos paradigmas o estado de exclusão em que o Beto se encontra. O anúncio tem como objeto interpretante o analfabetismo de Beto, porém através dos signos visuais e lingüísticos ele induz por meio de inferências o interprete a alcançar várias significações. E de acordo com o cenário vazio e a mesa que também aparece vazia, o interprete subentende que falta mais coisas para o Beto além da educação.
Utilizando esses signos o anunciante vai construindo na mente do intérprete a imagem de uma criança que deveria estar na escola, pois o banco e a mesa presente na imagem nos remetem as carteiras escolares do passado. E quando confrontamos com os signos lingüísticos que “Beto não vai escrever para o papai Noel”. “Até porque ele nunca teve chance de aprender a escrever”. O anunciante utiliza-se o apelo emocional, para sensibilizar o intérprete. E isso ocorre porque o anunciante ocupa 90% da página da revista para mostrar Beto, destacando o seu rosto, a tristeza estampada nele, e suas mãos pequenas que através de gestos induz o interpretante a inferir que se trata de alguém que possivelmente deveria estar segurando uma caneta. No entanto, é notável a ausência de dois itens fundamentais: o papel e a caneta, e embora seus olhos estejam fechados, os seus gestos levam o intérprete a alcançar está significação.
Após causar essa comoção no interprete, situando-o da falta de oportunidade do Beto em freqüentar uma escola, o anunciante parte para outro apelo que ocupa cerca de 10% do que restou da página do anúncio. Desta vez, ele utiliza outros signos lingüísticos que embora ocupe espaço mínimo, ganha dimensão ainda maior quando confrontado com os signos apresentados anteriormente, que são: “O natal não é igual para todos”. “Muito menos a vida”. Com esta organização dos paradigmas no eixo sintagmático, o interprete é induzido a pensar na questão social que aparece gritante na imagem e ainda como será o natal do Beto.
Tais signos lingüísticos empregados no anúncio, dentre eles o “Natal” é determinante para tocar o emocional do interprete que em sua mente já tem estabelecido vários paradigmas resultantes deste signo que são: troca de presentes, fartura, festividade, paz, perdão, compaixão e acima de tudo nascimento do menino Jesus. E quando confrontado com a mesa de madeira vazia, o anunciante chama a atenção do interpretante para a ceia de natal do Beto.
É notável perceber, que o anunciante explora um mito que é o papai Noel, que na visão das crianças é o realizador de sonhos, de desejos para sensibilizar o leitor a ajudar o Beto a aprender a escrever, porém o anunciante não tem como objeto principal o analfabetismo de Beto e, sim a venda de seu produto. E isso é observado quando analisamos o anúncio em sua plenitude. Percebemos a presença de outros signos lingüísticos já abordados, que são “O natal não é igual para todos”. “Muito menos a vida”. “Compre Cartão Unicef”.
Entretanto a intenção do anunciante não para por ai, ele busca mobilizar o interprete ainda mais, e isso é feito através do apelo emocional, e na sua profundidade o anúncio da Unicef traz signos lingüísticos que diz: “comprando cartões Unicef você estará enviando uma vida melhor para as crianças”, lançando essa responsabilidade nas mãos do interprete, dizendo indiretamente por meio dos signos “olha só depende de você”.
Percebe-se também no signo lingüístico a existência de um pequeno contexto histórico da Unicef, situando o interpretante de que a Unicef tem como objetivo a garantia de bem-estar priorizando a saúde, a educação, a igualdade e a proteção para as crianças de todo o mundo, ou seja, induz através da compra de seu produto “o cartão Unicef”, o interprete a contribuir para a vida de muitos betos perdidos neste país. O anunciante explora o signo lingüístico e visual de tal modo que o interprete, é submetido a signos que levam ele a acreditar que comprando o cartão conseqüentemente ele garantirá proteção a essas crianças e praticará a solidariedade, principal slogan da Unicef.

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