Não é conversa de bar, é de redação. Na redação dos jornais, sugeria-se um "pergunta e resposta", quando a idéia era publicar uma entrevista dessa forma. Depois, passou a ser um "pingue-pongue". Com o tempo, os jornalistas, por pressa ou preguiça, aboliram o pongue. "Vamos fazer um pingue com o secretário."Ora, uma entrevista longa, que resulta num texto grande, passou a ser um pingão. "Desce o pingão com a Marta." Esse "desce" se explica: antes da informatização, as matérias, batidas à máquina, em laudas de papel, desciam para a oficina. Hoje, vão pelo cabo do computador.
Em termos de jargão do jornalismo há exemplos clássicos. Foto do entrevistado é "boneco". "Vou dar um boneco do Covas aqui no alto", diz o editor, apontando para a página. A continuação de uma matéria, na edição do dia seguinte, é "suíte". O chefe da reportagem: "Vamos suitar a invasão dos sem-teto". "Matéria" mesmo, em lugar de "reportagem", é um jargão. Em certas redações, antigamente, você flagrava um editor pedindo a um repórter: "Cerca essa vaca para mim." Geralmente era para apurar melhor uma notícia surgida "em cima do fechamento". Ou seja, perto do horário de fechamento da edição - hoje, em alguns casos, pernosticamente chamado "dead line". Mas, voltando à vaca. O que acontecia é que ela estava indo para o brejo...
Outro bicho, este marcante no jargão do jornalismo, é a foca. Na verdade, "o" foca. Jornalista novo, inexperiente. Um foca. Consta que o apelido vem dos remotos tempos do flash a magnésio. Os fotógrafos dos jornais preparavam suas máquinas: focavam e deixavam o obturador (uma pequena "janela") aberto. Quando todos estavam prontos, alguém riscava um fósforo numa placa de magnésio e ela "explodia" num clarão. Essa luz passava pelo obturador aberto e impressionava a chapa, o avô do filme. Ocorre que alguns fotógrafos, inexperientes, demoravam para preparar a máquina - e atrasavam os outros. "Péra aí, estou focando." E os outros: "Foca logo, caramba". E mais tarde... "Ih, lá vem o foca". Esta é a história que eu conheço. Vendo o peixe como comprei.
Valdir Sanches é jornalista e colunista do Planeta ExpressPor Paulo Bicarato, às 12:57 de 08.06.2001 - Categoria: Primeira Edição
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